MANIFESTO CONTRA A APLICAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE FLUÊNCIA LEITORA

Na última reunião de CREPs do SINESP, as conselheiras da Região de Freguesia/Brasilândia, as Coordenadoras Pedagógicas Adriana de Carvalho e Mireya Aracena apresentaram o manifesto dos Coordenadores Pedagógicos contra a aplicação da avaliação da fluência leitora e solicitaram o apoio dos conselheiros.


O Manifesto

Os/As coordenadores(as), gestores(as) e professores(as) da Rede Municipal de São Paulo veem por meio desta manifestar o repúdio à aplicação da Avaliação Fluência Leitora. Ao analisarmos o material de aplicação, observamos que a prova diverge dos princípios que regem o Currículo da Cidade de São Paulo de Língua Portuguesa e a Orientação Normativa SME 01/2024. Dentro desse âmbito, acreditamos que avaliação, mesmo que externa e em larga escala, deva atender às necessidades e aos propósitos educativos em que preza nosso currículo. Também ressaltamos que na perspectiva psicogenética, que norteia as práticas de alfabetização no Currículo da Cidade, acreditamos:

a) Na aprendizagem do sistema de escrita alfabética e não na língua como código, como colocado no primeiro objetivo da avaliação;

B) Que a fluência leitora não interfere na compreensão do texto lido;

c) Que as práticas de linguagem devem estar centradas nas situações de uso sociais, e ter como foco o texto e não as palavras de maneira isolada ou desconhecida;

Preocupa-nos:

a) Redução da leitura à decodificação: O foco da fluência está na velocidade e precisão da decodificação oral, sem considerar se a criança compreendeu o que leu. Ou seja, mede “leitura” como se fosse “leitura em voz alta de palavras”.

b) Avaliação padronizada que ignora os diferentes momentos conceituais: Ao aplicar um único teste padronizado para todas as crianças, o instrumento ignora o momento de cada uma em relação à construção da língua escrita, classificando-as como “sabe” ou “não sabe” de forma binária e descontextualizada.

c) Descontextualização do ato de ler: A criança lê em voz alta para um avaliador, em silêncio, com cronômetro em mãos, sem qualquer função real de leitura. Essa situação está muito distante das condições em que se aprende, na escola, a construir sentido a partir dos textos.

d) Avaliação centrada no produto, não no processo: A fluência mede apenas o desempenho final em tempo real, sem investigar como a criança chegou àquela leitura, que estratégias usou, o que compreendeu, o que avançou.

e) Pressão normativa que induz práticas inadequadas: Quando os resultados da fluência passam a orientar metas e cobranças institucionais, há risco de as escolas anteciparem ou mecanizarem o ensino, adotando práticas centradas na decodificação rápida, em detrimento da compreensão leitora e do desenvolvimento das hipóteses infantis.

Ainda reforçamos os esforços de COPED e da DIPED de cada DRE para a formação de todos os professores das diversas áreas que atuam no Ciclo de alfabetização, a assessorias e consultas a especialistas que demandam tempo de formação e gastos aos cofres públicos dentro de uma perspectiva de nosso currículo que não conversam com a Avaliação proposta.

Por fim, ainda ressaltamos que a necessidade do uso de um aparelho celular de uso pessoal com sistema Android impossibilita a aplicação da avaliação, é necessário que a SME-SP forneça os insumos necessários para a aplicação, nossas Unidades carecem de rede de internet Wi-fi que possibilite o uso do aplicativo.

Fontes:

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. (1979) Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.
LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
RUSSO, GIULIANNY. Reescritas. 2025